Inclusão

Uma formatura para celebrar o acolhimento e o respeito às diferenças

No Colégio Dom João Braga, quatro alunos com deficiência se formarão no Ensino Médio este ano; conquista é uma vitória pessoal e também da educação especializada

Foto: Jô Folha - DP - Entre os formandos, estão quatro alunos com deficiência

No próximo dia 15 mais uma turma de ensino médio do Colégio Estadual Dom João Braga vai se formar. Poderia ser um grupo qualquer de alunos, mas é uma turma que contraria as estatísticas, que mostram que apenas 25,7% das pessoas com deficiência (PcD) sequer concluem o ensino básico. Entre os formandos, estão quatro alunos com deficiência - número que é motivo de orgulho para a escola e também para as famílias.

Prestes a se formar, o grupo de jovens é enfático ao descrever a experiência. "Eu vim de uma escola em que passei oito anos sofrendo bullying, e aqui me senti acolhida desde o primeiro momento", diz a estudante Luiza Ferraz, 19, que chegou no colégio ainda no Ensino Fundamental. "Na minha outra escola era bem difícil. Eu não conseguia socializar, todo mundo me julgava muito, mas nessa escola sempre fui acolhida", relata a colega, Karen Prestes, 18.

Os meninos, Manuel Eduardo Kowalski, 19, e Felipe de Ávila, 19, complementam. "Foi tudo normal. Tô feliz [de me formar]", resume Kowalski. "Foi ótimo! Eu com certeza vou sentir saudade. Sempre vou me lembrar das festinhas e duelos de carta", comenta Ávila. Para os jovens, suas famílias e também para a equipe escolar, o acolhimento e o trabalho de Atendimento Educacional Especializado (AEE) foram as chaves para a conquista do grupo. "Quando eu cheguei não tinha a sala de recursos e era bem difícil. Com a sala, consegui aprender com mais facilidade as coisas. É bem melhor", ressalta Luiza.

Trabalho especializado

A conquista do grupo, para além de uma vitória pessoal, também é uma vitória da educação. A educadora especial responsável, Vanessa Melo, comenta como se deu o trabalho com os alunos. "A gente trabalha as habilidades de atenção, raciocínio lógico, memória, que são carros-chefe para que a educação aconteça de forma efetiva", ressalta a professora, que se encontrava semanalmente com os alunos no turno inverso.

Na Sala de Recursos, a educadora trabalhava conteúdos, auxiliava na realização de atividades e orientava os demais professores. Para o sucesso da tarefa, Vanessa também ressaltou a colaboração de toda a equipe escolar e, claro, as potencialidades dos próprios alunos. "É muito fácil de trabalhar aqui. Eles são extremamente inteligentes, têm bom raciocínio lógico e têm capacidade e condições de ir para o lugar que desejarem, fazer o curso que quiserem", resume. Essa não é a primeira turma de ensino médio a contar com alunos especiais no Dom João Braga e, para o ano que vem, ainda mais estudantes PcDs devem concluir a etapa. Ao todo, a escola tem 18 alunos com deficiência matriculados.

Respeito às diferenças

Durante a visita do DP, o carinho e a proximidade dos alunos com seus professores era percebido nos olhares e nas palavras. Cada estudante, à seu modo, demonstrava a gratidão pela conquista. Uma das professoras da turma, Ana Lacau, resume o que enxerga em cada um deles. "O Felipe é um menino extremamente afetuoso, cheio de potencial, que vai concluir o ensino médio com louvor. Já a Karen é uma artista em potencial, completamente mergulhada no mundo digital", descreve. Ela continua. "A Luiza é uma menina extremamente crítica, sensível e perspicaz. O Manuel é um rapaz quieto e discreto, mas que trabalha muito bem, é um rico rapaz. Essa moçada vai longe", resume.

Gratidão e carinho

Entre os familiares dos alunos, o recado é claro. "Em primeiro lugar vem o agradecimento à escola. Elas [professoras] são mães quando a gente não tá aqui. A gente é bem recebida, bem tratada, não somos ignoradas. Eles tratam, não só os nossos filhos, mas a gente também, com amor, respeito e carinho. Isso é muito importante para os que estão vindo", diz a mãe de Felipe, Maria Teresa de Ávila. A mãe de Karen, Sônia Prestes, reforça a mensagem. "Pra mim é uma alegria ver essa conquista dela e dos colegas. Só tenho coisas boas a dizer e agradecer. Vou levar com um carinho muito grande essa escola", complementa.

E agora?

A chegada da formatura marca o fim de um ciclo - e o início de outro. Para os jovens, que já fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e estão se preparando para o Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave), não é diferente. Em primeira mão, Luiza trouxe a perspectiva de como devem ser os próximos anos. "Não tinha falado pra ninguém ainda, só um amigo meu sabia, mas eu fiz o vestibular da Anhanguera e passei pra Nutrição", conta. A notícia foi celebrada pelos colegas, que também sonham com o ensino superior. "Quero fazer faculdade de Cinema e, se não der, fazer cursinho", conta Karen. Enquanto Felipe também pretende seguir para o ensino Superior, Manuel tem outro plano traçado. "Vou fazer o concurso da Brigada", diz.



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